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Reajuste zero na mesa de negociação

Trabalhadores, que já aceitam redução de salários em jornada menor, admitem ficar sem aumento para garantir empregos


A crise econômica mundial está colocando os trabalhadores brasileiros entre a cruz e a espada – ou melhor, entre o reajuste de salário e o emprego. Com o agravamento da turbulência global, que deve piorar nos primeiros meses de 2009, os sindicatos de trabalhadores, que estão aceitando reduções salariais, também já admitem negociar reajustes menores ano que vem – inclusive, reajuste zero, prática impensável meses atrás.

O presidente do Sindicato Metabase de Belo Horizonte e Região, Sebastião Alves de Oliveira, por exemplo, já cogita a possibilidade de abrir mão do reajuste salarial em 2009 para manter empregos na cadeia automotiva e siderúrgica – setores de maior peso na economia mineira e que vêm sendo os mais castigados pela crise mundial, ao lado da mineração. “Podemos até estabelecer compromisso de índice de reajuste zero no ano que vem. É uma boa ferramenta”, ponderou.

De fato, esgotadas as alternativas de férias coletivas e paralisações “técnicas”, adotadas no fim deste ano, as empresas estão dando a largada rumo a negociações que envolvem suspensão de contratos de trabalho, fim de benefícios nos próximos dissídios coletivos e até mesmo redução de salários. Apesar de ser considerada uma atitude extrema, os vários acordos fechados indicam que a tendência pode se tornar comum no país. O Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, por exemplo, concordou com a redução de um quarto do salário de 700 trabalhadores do terceiro turno, colocados em férias coletivas por quatro meses pela montadora francesa Peugeot. “Tiveram que abrir mão para garantir o emprego”, afirmou o secretário-geral da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), José Maria de Almeida.

Na mesma linha, o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região concordou em diminuir a jornada e os salários de 650 funcionários de duas fábricas. A AçoTécnica, também de São Paulo, reduziu o período de trabalho de seus 300 trabalhadores e achatou os salários em até 16% entre dezembro e fevereiro. A Belgo Bekaert Arames, controlada pela gigante mundial ArcelorMittal, com unidades em vários estados – inclusive Minas Gerais –, evitou 20 demissões por meio da criação de um “banco de horas negativo”, no qual 350 empregados ficam em casa e só pagam as horas devidas quando a produção for reativada.

As negociações nesse sentido, contudo, estão longe de ser unanimidade. O presidente do Sindicato dos Comerciários de Belo Horizonte, José Alves, não admite, por enquanto, abrir mão de conquistas, mas se mostra disposto a sentar na mesa de negociação para que a melhor alternativa seja encontrada em prol da manutenção dos postos de trabalho. “Existem alternativas dentro da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)“, disse. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga, Luiz Carlos de Miranda, tem a mesma opinião. “Estamos dispostos a sentar com as empresas para achar uma saída, mas não estaríamos inclinados a reduzir o salário ou os benefícios da categoria. Buscaríamos outras opções”, garante.

O outro lado – o patronal – também está disposto a negociar. “Neste momento de crise, os trabalhadores são parceiros da indústria. Temos que pensar juntos para reduzir custos e manter empregos. A flexibilidade das relações trabalhistas deveria ser pensada”, ressalta o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Veloso.

O tema ainda é polêmico e deve gerar um longo debate. “Os sindicatos vão lutar para conseguir, pelo menos, o reajuste da inflação”, salientou o professor do Ibmec João Bonome. “O governo terá que socorrer o trabalhador também, e não só as empresas. Os funcionários não vão abrir mão de seus direitos”, acredita a professora do Núcleo Trabalho, Produção e Tecnologia Proex/PUC-Minas Tânia Cristina Teixeira. A questão, contudo, conforme lembram especialistas, é que em época de crises profundas, como agora, o poder de barganha dos trabalhadores fica bastante comprometido – e as negociações já começam com a faca (demissões) no pescoço.

Fonte: Jornal Estado de Minas
(Incluída em 22/12/2008 às 06:54)

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