conteúdo [1] | acessibilidade [2]

 
 

Retorna ao índice de Destaques

Denúncia contra empregador cresce 5,7%

ASSÉDIO MORAL

A incidência de acusações de assédio moral no Estado de São Paulo aumentou 5,7% em 2005 em relação ao ano anterior.

No ano passado, a DRT-SP (Delegacia Regional do Trabalho) recebeu 242 queixas de assédio moral, segundo o Núcleo de Promoção da Igualdade de Oportunidade e de Combate à Discriminação no Trabalho, ligado à instituição. Cerca de dois terços dos reclamantes eram mulheres.

Uma delas é a pesquisadora universitária Marcela (nome fictício), 51, que, durante 11 anos, viu-se obrigada a conviver com crises de choro e depressão. Inferiorizada pelo chefe, diz ter ouvido frases como: "Trato você pior do que um cachorro".

Além de passar por "cenas humilhantes", também promovidas por uma colega, Marcela conta que teve de realizar tarefas que nada tinham a ver com a função para a qual havia sido contratada. "Colocavam-me para lavar tanques de água em local insalubre."

A pesquisadora afirma que, com o tempo, tornou-se insegura. "Hoje, ao vivenciar situações estressantes, choro, tenho hiperventilação e minha pressão arterial oscila bruscamente", diz.

Doenças, aliás, são um dos riscos invisíveis do assédio moral. Na avaliação da médica do trabalho Margarida Barreto, os primeiros sintomas são choro, insegurança, ansiedade, baixa auto-estima e sensibilidade excessiva.

O passo seguinte é o desenvolvimento de enfermidades psíquicas, entre as quais a depressão, o estresse patológico e as síndromes do pânico e de "burnout", sendo esta "uma das mais perigosas". "O paciente atinge um estágio tal de desesperança que pensa em tirar a própria vida", alerta Barreto.

Foi o que aconteceu com João (nome fictício), 47, que afirma ser vítima do assédio moral exercido pelo superior direto há três anos. "Quando ele não me trata com indiferença, dirige-se a mim com agressividade e rispidez. Suas ordens são confusas e contraditórias. Acabo sentindo culpa e insegurança mesmo nas tarefas mais simples de serem realizadas", diz.

"Penso nisso de forma doentia, a ponto de conseguir dormir só três horas por noite", comenta. "Estou depressivo, já pensei várias vezes em suicídio. Engordei mais de 50 quilos desde que entrei nesta firma, há quase cinco anos."

Para João, a empresa cansou-se dele e quer forçar sua saída. Casos como esse, para a procuradora do Ministério Público do Trabalho Valdirene de Assis, são comuns. "O objetivo de quem pratica o assédio moral é atingir a honra, a imagem e a integridade psíquica do empregado. Em agonia extrema, ele pede demissão, satisfazendo a intenção da firma de não arcar com os gastos da dispensa".

Diferenças por sexo

Segundo especialistas, as manifestações de assédio moral contra profissionais do sexo feminino não são iguais às praticadas contra homens.

"Em relação às trabalhadoras, são comuns piadas grosseiras, intimidação, submissão a qualquer ordem e comentários sobre a aparência. No caso dos homens, a tática consiste em promover o isolamento e fazer comentários sobre sua virilidade, capacidade de trabalhar e de manter a família", explica a advogada especializada na área trabalhista Mara Darcanchy.

Demora para reagir leva a moléstias

A competitividade no mercado de trabalho é vista como uma das principais causas da passividade da vítima diante do assediador. "Ela suporta a situação, pois tem a ilusão de que aquele inferno vai passar em breve. Porém isso não acontece", afirma a médica do trabalho Margarida Barreto.

Para Roberto Heloani, professor de psicologia do trabalho e saúde do trabalhador, a incapacidade de reagir está diretamente relacionada à falta de percepção. "Algumas pessoas pensam que se trata apenas de uma informalidade sem grandes conseqüências."

Aos poucos, contudo, a humilhação vai minando as forças mentais e físicas do trabalhador. Foi o que ocorreu com a costureira Elisabeth Pittman, 47, "torturada moralmente" pela encarregada do setor em que trabalhava.

"Ela me espionava no banheiro, me ameaçava e me humilhava na frente das colegas", lembra. Depois de um ano de assédio, durante uma discussão com a supervisora, Pittman sofreu um infarto.

Tal incidente mostra que o terror psicológico não deixa apenas seqüelas emocionais. Os primeiros indícios físicos são palpitações, sudorese, transtornos digestivos, dores no corpo e distúrbios do sono. Logo depois, aparecem as moléstias propriamente ditas.

De acordo com Heloani, alterações hormonais e cefálicas estão mais presentes entre as mulheres. Já nos homens, são freqüentes os problemas cardíacos e respiratórios, bem como a disfunção erétil.

Segundo especialistas, a recuperação do assediado é possível, mas leva tempo. "É preciso interferir na causa e nas conseqüências ao mesmo tempo, pois as enfermidades psicossomáticas sempre têm sua raiz numa doença emocional", explica Luiz Carlos Morrone, professor de medicina social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Fonte: Jornal Folha de São Paulo.
(Incluída em 27/03/2006 às 12:20)

Rua Guajajaras, 1984 - Barro Preto - 30180-101 - Belo Horizonte - MG - Tel.: (31)3025-3500 - Fax: (31)3025-3524