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Prêmio valoriza atendimento

PAI-PJ


“Mãe mata filhos em banheira”. “Psiquiatra esfaqueia pai e anuncia novos crimes”. “Estudante fuzila espectadores em cinema”. As manchetes foram publicadas em jornais do Brasil inteiro, mas se pudéssemos voltar no tempo para buscar as razões destes atos hediondos, encontraríamos pessoas transtornadas, tentando, ao seu modo, curar sua dor. Estagiários do curso de psicologia do Centro Universitário Newton Paiva se depararam com personagens dessas histórias, em visita a um hospital psiquiátrico na região Central do estado, e decidiram propor um sistema de tratamento mais humano aos portadores de sofrimento mental que cometeram crimes.

Este é o objetivo do Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário Portador de Sofrimento Mental Infrator (PAI-PJ), criado em parceria com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Desde 2000, já foram atendidas mais de 800 pessoas, envolvidas em cerca de 1,6 mil processos. Recentemente, a iniciativa, coordenada pela psicanalista, psicóloga judicial e professora Fernanda Otoni, foi apresentada a oito países da Europa e, ontem, ao ministro da Educação, Fernando Hadad, entregou a coordenadores e alunos o prêmio “Top Educacional Mário Palmério”, concedido pela Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes).

Hoje, 266 infratores são assistidos por uma equipe multidisciplinar. Os casos são atendidos, individualmente, visando sempre à inserção na sociedade, por meio de acompanhamento jurídico, psicológico e de assistência social. Profissionais e estudantes de psicologia, direito, pedagogia e odontologia do centro universitário ajudam e também aprendem com os pacientes. O projeto os permite lidar, na prática, com os desafios que vão encontrar no exercício da profissão. Os resultados, segundo a psicanalista Elisa Campos, há mais de um ano na casa, são excelentes.

“O índice de reincidência é baixíssimo” comemora. Em torno de 2%, nos crimes de uso de drogas ou furto e, ainda conforme dados dos programa, não foi registrado nenhum caso recorrente relativo a crime grave contra pessoa, como homicídio. Ela ressalta também a importância da parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. “O maior risco para esses pacientes é a falta de tratamento. Por isso, atendemos em penitenciárias, delegacias, hospitais e na Casa PAI-PJ. BH sempre nos apoia na parte clínica, por meio dos Cersans (Centros de Referência de Saúde Mental) ou postos de saúde, o que é muito importante para nosso projeto terapêutico”, acrescenta.

O departamento jurídico do programa se ocupa de acompanhar o desenrolar dos processos e as assistentes sociais cuidam para que o paciente, depois de cumprida a pena, consiga se reinserir no mundo do trabalho e volte a se relacionar com a comunidade em que vive.

Vítima de transtorno afetivo bipolar, o auxiliar jurídico João Magalhães Silva, de 51 anos, cumpriu pena de 9 anos por seqüestro. Ele chegou à casa em 2003 e vê na iniciativa suporte importante para superar suas questões. “Todos aqui são como pérolas. A terapia é muito importante para meu crescimento. Aqui me sinto valorizado como pessoa”, afirma.

A estudante de psicologia Luciana Mara Gontijo, de 24 anos, começou a participar do projeto há apenas cinco meses, mas garante que ele já mudou sua vida. Atualmente, ela acompanha dois internos de hospitais psiquiátricos. “Um deles está recluso há 12 anos e o outro, há 9. Me emociono ao levá-los para além das portas do hospital e perceber como os estímulos da vida já causam reações nessas pessoas”, diz. Ela explica que, como estagiária do PAI-PJ, tem também a função de avaliar, nas delegacias e penitenciárias, os presos que se enquadram no perfil atendido. “Assistimos psicóticos e definir esse problema é uma responsabilidade grande, mas temos um suporte muito bom”, pondera.

"O índice de reincidência é baixíssimo" - Elisa Campo, psicanalista

Fonte: Jornal Estado de Minas.


(Incluída em 08/08/2006 às 08:30)

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