Retorna ao índice de Destaques Ipsemg: "Reivindicações vão para o lixo"
Ipsemg. Presidente do órgão diz que, enquanto protesto dos médicos persistir, não há qualquer negociação
Segundo grevistas, apenas 30% dos atendimentos foram realizados ontem
Mais que transtornos, a paralisação iniciada ontem pelos médicos que atendem no Hospital Israel Pinheiro, do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), revelou um impasse que poderá trazer prejuízos ainda maiores para os servidores estaduais que não têm outra opção de atendimento médico em Minas.
Ontem, o presidente do Ipsemg, Antônio Caram Filho, foi taxativo ao afirmar que, enquanto os médicos insistirem com a estratégia de não atenderem os pacientes para forçar uma negociação salarial, o órgão não irá considerar qualquer reivindicação dos profissionais.
Irritado, Caram disse que, com protesto, os pedidos da categoria irão para o lixo. "Não recebi nenhuma reivindicação. Mesmo se tivesse, com paralisação não tem conversa. Se chegar alguma pauta, ela vai para a lata de lixo", afirmou.
O presidente do Ipsemg classificou o movimento dos médicos como "ilegal, irresponsável e leviano" e prometeu punir os que aderiram à greve. "Nós vamos abrir processo administrativo contra quem não veio, além de cortar o pon-to".
Ontem, segundo os médicos, todos os profissionais aderiram ao movimento e só 30% dos atendimentos foram feitos (por dia, 2.100 pessoas passam pelo hospital). A direção do Ipsemg não informou o número oficial de atendimentos. Atualmente, 449 médicos atendem nas unidades no Ipsemg na capital.
Hoje, o protesto continua. Até amanhã, quando os médicos se reúnem em assembleia, os servidores estão sem garantia de quando a queda de braço entre médicos e diretoria do órgão terá um fim.
O presidente do Sindicato dos Médicos (Sinmed), Cristiano da Matta Machado, rebate as críticas do presidente do Ipsemg e diz que, antes de votar pela paralisação, a categoria informou a direção do órgão sobre as reivindicações. "Podemos decidir pela greve geral", avisou. Além de melhoria salarial, a categoria reclama das condições de trabalho e denuncia o sucateamento do atendimento médico nas unidades do Ipsemg, com fechamento de leitos e suspensão de cirurgias que já haviam sido programadas.
Prejuízo. Ontem, sobrou para os servidores o prejuízo do protesto. Quem foi ao Centro de Especialidades Médicas, ainda na portaria descobriu que não havia médicos no atendimento. No Hospital Israel Pinheiro, as cirurgias programadas para o dia não aconteceram. A única opção foi o Serviço Médico de Urgência (SMU), que só está recebendo os casos com risco de morte, após uma triagem dos médicos.
A solução encontrada em alguns casos foi encaminhar pacientes para hospitais credenciados. Quem não conseguir ser transferido para outros centros de saúde terá que remarcar a consulta e voltar para a fila de espera. "Não há drama nenhum. Lamento muito, mas atender é uma obrigação dos médicos", disse o presidente do Ipsemg.
Sofrimento
Paciente não consegue atendimento e desmaia
Enquanto não há consenso entre os médicos e direção do Ipsemg, quem sofre as consequências são os servidores que precisam de atendimento.
A agente comunitária Eloísa Helena de Miranda saiu de Pará de Minas, no Centro-Oeste do Estado, para levar o filho de 10 anos para uma consulta com um otorrinolaringologista. Ela perdeu a viagem. “É um desrespeito. Vim do interior, estou ‘matando’ trabalho e meu filho está perdendo prova”, afirmou.
Ontem, no Serviço Médico de Urgência (SMU), muita gente esperava a triagem médica, mas ser atendido foi uma conquista de poucos. Uma servidora que chegou ao local passando mal não foi atendida e acabou caindo no local. “Chamamos o Samu e eles não vieram porque é responsabilidade do Ipsemg”, contou Márcia Ferreira, a funcionária do instituto que ajudou a paciente.
A aposentada Auxiliadora Drumond, 65, foi outra que sofreu nessa segunda. Ela tinha consulta marcada no Centro de Especialidades Médicas há mais de um mês. Não foi atendida, mas não se revoltou. Pelo contrário, apoiou a causa dos médicos. “Nós temos que nos unir aos médicos porque eles estão lutando pela qualidade do nosso atendimento, que está muito ruim”, disse. (TL)
Fonte: O Tempo (Incluída em 30/03/2010 às 11:35)
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