Retorna ao índice de Destaques Juízas são investigadas por suposta ligação com o PCC
PCC
A Corregedoria Geral de Justiça de São Paulo, órgão responsável pela fiscalização das ações dos magistrados do Estado, investiga a ligação de duas juízas de Mauá (ABC), Maria Eugênia Pires e Ida Inês Del Cid, com várias pessoas suspeitas de manter uma rede de lavagem de dinheiro em favor da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
A denúncia de que as magistradas de Mauá têm ligação com os integrantes da facção foi feita pelo empresário Douglas Martins do Prado ao Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional de Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público de Santo André (ABC).
Prado acusou a juíza Maria Eugênia Pires de favorecer Gildásio Siqueira Santos numa ação de reintegração de posse sobre uma casa de R$ 250 mil em Mauá. Santos, segundo a Dise (Delegacia de Investigação Sobre Entorpecentes) de Santo André, é apontado como testa-de-ferro do PCC na região do ABC paulista.
Santos é acusado de ser um dos representantes de Wilson Roberto Cuba, integrante da facção criminosa e que, teoricamente, está isolado na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (620 km de SP), mas foi grampeado, com autorização judicial, várias vezes nos últimos meses usando telefone celular dentro do presídio.
Um dos supostos aliados de Santos no esquema para fortalecer o PCC junto ao Poder Judiciário de Mauá também investigado pela polícia é Sidnei Garcia, vice-presidente da Associação Comercial e Empresarial de Mauá e dono de duas revendedoras de carros e de quatro postos de gasolina que, segundo a polícia, estão em nomes de laranjas. Garcia também teve algumas ligações grampeadas pela polícia.
Em várias delas, Garcia trata a juíza Ida Inês Del Cid, responsável durante tempos pela Justiça Eleitoral em Mauá, como "My Love" e recebe de volta, sempre em tom de intimidade, um "palhaço". Mesmo com atuação em Mauá, a juíza também concedeu, num plantão e em Santo André, liberdade a um homem preso em flagrante por porte ilegal de arma e que seria segurança de Garcia em uma loja de carros dele. Foi nessa mesma loja, que estaria em nome de "laranjas", que 22 veículos foram apreendidos recentemente.
O "sintonia"
Outra pessoa acusada de representar o PCC no ABC é Felipe Geremais dos Santos, apontado como "sintonia" (espécie de gerente) da facção na região e responsável por ajudar na administração dos 44 postos de gasolina nos quais o dinheiro vindo do crime é lavado. Ao todo, 38 pessoas, 44 contas bancárias (que movimentam cerca de R$ 500 mil por mês, em média) foram investigadas.
"O dinheiro arrecadado em crimes como tráfico, roubo e seqüestro é direcionado para Rabugento [Cuba] que, através de um sintonia [Felipe Alemão], aplica nas diversas modalidades mercantis. Para tanto, este convocou pessoas que administram os estabelecimentos comerciais. Escolheram postos de combustível, pois a movimentação em moeda corrente é alta, além de ser possível aumentar os lucros através da mercancia de substâncias adulteradas", relatou o delegado Marcelo Fortunato ao juiz Celso Maziteli Neto, da 4ª Vara Criminal, que, em novembro, negou a prisão dos suspeitos de ligação com o PCC.
Depois de ter recebido a denúncia do empresário Prado contra as duas juízas, o Gaerco de Santo André a enviou ao procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, que, por sua vez, repassou tudo à Corregedoria do Tribunal de Justiça.
Magistradas não querem falar, diz TJ
As juízas de Mauá (SP) investigadas pela Corregedoria Geral de Justiça de São Paulo, Maria Eugênia Pires e Ida Inês Del Cid, foram procuradas pela Folha na quinta e ontem para se pronunciar sobre a investigação da suposta ligação das duas com pessoas acusadas de pertencerem à facção criminosa PCC, mas ambas, segundo a assessoria de imprensa do TJ, não quiseram falar com a reportagem.
Ainda de acordo com a assessoria do TJ, as magistradas aguardam a convocação da Corregedoria Geral de Justiça para prestar os devidos esclarecimentos sobre as suspeitas que pesam contra elas.
À Polícia Civil, em julho deste ano, Gildásio Siqueira Santos disse ser dono de dez postos de gasolina e que, "por não ter o seu nome limpo" e por problemas financeiras nos próprios estabelecimentos, nenhum deles estava legalmente registrado como sendo de sua propriedade.
Ao ser questionado pela polícia, Santos negou integrar o PCC e disse não ter relações com ninguém ligado ao grupo. Por dois dias, o advogado Umberto de Almeida Oliveira foi procurado pela Folha, mas não foi encontrado.
O vice-presidente da Associação Comercial e Empresarial de Mauá, Sidnei Garcia, disse que está à disposição da Justiça para comprovar que todas as acusações feitas contra ele são falsas. Ele também disse que a juíza Ida Inês Del Cid nunca o favoreceu e que eles "são apenas muito amigos, há anos."
Fonte: Jornal Folha de São Paulo. (Incluída em 11/12/2006 às 12:00)
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