Retorna ao índice de Destaques A infidelidade não tem partido
POLÍTICA
Um total de 147 deputados mudou de legenda nos dois primeiros anos de cada um dos dois mandatos do presidente Lula. O número é mesmo em igual período do governo de FHC
Brasília – A análise das trocas de partido na Câmara dos Deputados desde 1995 mostra uma coincidência que beira a incredulidade. Levantamento feito pelo Estado de Minas sobre registros da Câmara revela que nos primeiros anos dos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — aqueles em que a influência da eleição é mais forte –, 147 parlamentares mudaram de legenda. Esse é exatamente o mesmo número registrado no mesmo período dos dois mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Apesar de o total de trocas coincidir, há diferenças claras entre as mudanças de partidos nos dois governos. Na gestão tucana, as trocas foram equilibradas nos dois mandatos. Em 1995, primeiro ano do primeiro mandato, 77 deputados trocaram de legenda. Em 1999, levando-se em consideração as mudanças até agosto — o que permite a comparação com Lula —, foram 70 os parlamentares que se movimentaram. Na estada de Lula no Palácio do Planalto, há uma concentração maior nas trocas no primeiro ano do primeiro mandato: foram 111. Já neste ano, o primeiro do segundo mandato, 36 deputados mudaram de legenda.
Outra diferença clara é em relação aos partidos que mais atraíram parlamentares. No caso do governo de Fernando Henrique, estão entre essas legendas justamente as duas principais siglas da coligação que o elegeu: PSDB e PFL, hoje DEM. Somadas as atrações dos dois primeiros anos dos mandatos tucanos, o PSDB angariou 33 deputados, e o PFL, 29. Já no caso do governo Lula, o PT, partido do presidente, não está nem de longe entre as legendas que mais ganharam parlamentares. Em 2007, o PR, ex-PL, foi o partido que mais ampliou sua bancada na Câmara. Apesar de ser da base do governo, a legenda não integrou oficialmente a coligação que reelegeu Lula no ano passado. Em 2003, o partido que mais ganhou deputados foi o PTB, que também não estava na coligação de Lula no ano anterior.
ABANDONO Houve ainda cenários distintos em relação às siglas que mais foram abandonadas por deputados nos dois governos. Na gestão de Fernando Henrique, os maiores desfalques atingiram partidos como PPB, hoje PP, PMDB, PTB – siglas que integraram a base do governo – e até as principais legendas da coligação vencedora: o PFL e o PSDB. Já no governo Lula, as baixas atingiram as mais importantes siglas da oposição: PFL ou DEM, PSDB e PPS.A fidelidade partidária é um dos principais itens das discussões na Câmara nas últimas semanas. O partido que critica com mais entusiasmo as trocas de legendas é o DEM, que ainda espera do Supremo Tribunal Federal (STF) uma decisão que possa devolver à sigla os mandatos de deputados que a trocaram por outra. Os dados mostram que o DEM, ainda com o nome PFL, atraiu 29 deputados nos começos dos dois mandatos tucanos. “O que houve no início do governo do presidente Fernando Henrique estava errado”, diz o líder do DEM na Câmara, Onyx Lorenzoni. “Não pode haver fisiologismo.”
Fonte: Jornal Estado de Minas (Incluída em 20/08/2007 às 09:20)
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