Retorna ao índice de Destaques Aposta na cicatrização
RENAN CALHEIROS
Aliados vão procurar a oposição para curar feridas e montar agenda de votação
Brasília – Em busca da cicatrização das feridas do processo de sua absolvição, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), começa hoje uma maratona de negociação política para se manter no cargo. Nela, estão incluídas os senadores da oposição e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Alvo de mais dois processos no Conselho de Ética, Renan quer mostrar a todos que tem força suficiente para diminuir a tensão no Senado nos próximos 15 dias e ficar no comando da Casa, inclusive na votação da prorrogação da CPMF, prevista para ocorrer a partir de outubro. Os oposicionistas já avisaram que não votam a matéria com Renan na presidência.
Aliados do senador vão procurar a oposição, a partir de hoje, para discutir uma agenda mínima de votações no plenário. Renan não pretende, por enquanto, convocar uma reunião de líderes, porque sabe do risco de passar pelo constrangimento de um boicote da oposição. Caberá ao líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), comandar a corrida informal atrás de um acordo. Nos bastidores, Renan também manterá os telefonemas a alguns senadores.Espera-se ainda que o presidente do Senado tenha uma conversa hoje com Lula, que estava com chegada prevista de uma viagem ao exterior nesta madrugada. O encontro entre os dois, porém, ainda não está oficialmente confirmado. E já há uma divergência. No Senado, amigos de Renan passaram a versão de que o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, telefonou ao senador quinta-feira informando que o presidente gostaria de encontrá-lo. No Palácio, a versão é outra: foi Renan quem pediu para falar com Lula. Diante desse desencontro, há, pelo menos, uma certeza entre Palácio e Senado: não caberá a Lula pedir para Renan se licenciar do cargo. Os dois discutirão, no momento, como pacificar o Senado, depois da absolvição do peemedebista.
Renan pretende dizer ao presidente que tem fôlego suficiente para garantir uma Casa estável até a votação da CPMF. O senador levará a Lula a previsão da líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), de que a prorrogação do imposto chegará ao Senado a partir de 15 de outubro. E dirá que conseguirá, até lá, rearticular as forças no Senado para continuar na presidência da Casa. Seus aliados dizem ainda que Renan jamais aceitaria um pedido de Lula para o afastamento. Nem Lula faria tal pedido. Seria, na avaliação de senadores, a submissão de um chefe de um poder a outro.
ATRÁS DA OPOSIÇÃO Jucá vai procurar os líderes do DEM, José Agripino (RN), e do PSDB, Arthur Virgilio (AM), para discutir uma agenda de votações possível nesse cenário de crise após o julgamento que livrou Renan da cassação de seu mandato. “Vamos conversar com os líderes, mas sem prejuízo da posição política deles. Esse processo virou uma queda-de-braço. Precisamos discutir como melhorar o cenário”, disse Jucá. O líder não vai cobrar de DEM e PSDB o recuo da pressão em cima de Renan. Mas, pelo menos, que ajudem nas votações em plenário. Seria, na análise do próprio Jucá, uma etapa da cicatrização das feridas do resultado do julgamento da semana passada. “Essa cicatrização ainda leva tempo”, afirmou. O governo tem pressa, por exemplo, para aprovar a indicação de autoridades para órgãos públicos, como Paulo Lacerda, na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e Luiz Antônio Pagot no Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit).
Renan não apareceu ontem no Senado. Ficou em Maceió, onde passou o fim de semana. Seu retorno a Brasília estava previsto para o fim da noite de ontem. O senador promete reaparecer hoje. E sabe que ainda vai encontrar um cenário de ressentimento na oposição. “A curto prazo, o cenário é de crise intensa. Vai depender do procedimento do Renan nesse entendimento”, disse o vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), que assume o lugar de Renan em caso de licença.
Fonte: Estado de Minas
(Incluída em 18/09/2007 às 08:10)
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