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Tudo parado

RODOVIÁRIOS

Pelo segundo dia consecutivo, população é penalizada na queda de braço entre patrões e empregados do transporte coletivo; para hoje, ameaça é de mais paralisações

Cem mil pessoas sem transporte coletivo. Esse foi o saldo do segundo dia consecutivo de paralisação dos rodoviários em Belo Horizonte. Além das estações Barreiro e Diamante, que estavam paradas desde segunda-feira à tarde, ontem os rodoviários decidiram ampliar a paralisação e os usuários da região de Venda Nova também foram afetados pela interrupção dos serviços na estação BHBus da região. As notícias para hoje não são nada boas: até o fechamento desta edição, permanecia um impasse numa reunião na Delegacia Regional do Trabalho (DRT) e, com isso, o indicativo dos rodoviários era de greve geral hoje.
Nessa queda de braço, a população é que continua sofrendo. Com a ampliação da paralisação, ontem, as pessoas que dependem do transporte coletivo ficaram sem opção. Muita gente que tentou seguir para o trabalho, por exemplo, teve que voltar para casa. Em alguns casos, a opção foi fretar vans e kombis. Os rodoviários estão em campanha salarial e exigem um reajuste de 37%, a contraproposta dos patrões não chega a 6% de aumento nos salários. Atualmente, um motorista de ônibus ganha R$ 1.053, por mês, e o cobrador R$ 526.
A única movimentação de veículos nas estações do BHBus no Barreiro, ontem pela manhã, eram de viaturas da Polícia Militar que faziam patrulhamento para evitar tumultos. Os passageiros que se arriscaram a se deslocar até as estações encontraram cartazes com avisos sobre a greve e as catracas lacradas.
O transtorno da greve para as pessoas que dependem do transporte coletivo foi tão grande, que muita gente chegou a pagar muito além do que costuma gastar diariamente só para não perder o dia de trabalho. As irmãs Michele e Pryscila Bragança, por exemplo, se juntaram às amigas Valéria Ferreira Rosa, 32, e Marisa Ferreira, 27, para ratear o valor de uma corrida de táxi do Barreiro até a Savassi, na região Centro-Sul da capital. Cada uma teve que desembolsar R$ 15 pelo transporte.
Quem não tinha dinheiro para dividir uma corrida de táxi, ou não conseguiu uma carona, teve que ter muita paciência. Além de enfrentar filas longas nos pontos poucos ônibus que circularam, muitas pessoas ainda tiveram que viajar espremidas em coletivos lotados. Algumas empresas disponibilizaram transportes para buscar os empregados no bairro. Leonardo Pereira dos Santos, 34, proprietário de uma van, foi contratado às 7h para buscar um grupo de funcionárias de uma empresa. "Já me deixaram de sobreaviso ontem (anteontem)", contou Santos.
Sem dinheiro para pagar táxi, a jovem Diane Mara Rodrigues, 18, resolveu arriscar. Ela andou cerca de 15 minutos, do bairro Diamante até o Tirol, para pegar um ônibus até Contagem só para não perder uma entrevista do primeiro emprego.

Demissão
Pela manhã, o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte e Passageiros de Belo Horizonte (Setra) concedeu uma entrevista coletiva à imprensa. Iraci Assis Cunha garantiu que, mesmo que haja aumento nos salários dos rodoviários maior que os 5,36% oferecidos pelas empresas, as pessoas podem ficar despreocupadas porque isso não será descontado no preço das passagens. Ele criticou a greve e falou em demissão.
"Estamos aguardando os colaboradores para retornar ao posto de trabalho. O nãocomparecimento poderá acarretar em demissão. Acreditamos no bom senso de todos", disse ele. Conforme o presidente do Setra, para amenizar o efeito da greve, o sindicato, com apoio da BHTrans, disponibilizou algumas linhas, chamadas de alimentadoras.

Usuários de Venda Nova reclamam
Na Estação Venda Nova, cerca de 20 linhas deixaram de circular ontem. Os sindicalistas esvaziaram o terminal por volta das 8h40 e, até o início da tarde, a paralisação foi total. Ontem à noite, o presidente da BHTrans, Ricardo Mendanha, informou que a situação só foi parcialmente regularizada por volta das 12h, com a saída de alguns ônibus. “Somente as 14h conseguimos fazer com que as estações voltassem a funcionar normalmente, regularizando a situação por completo”, disse.
A paralisação em Venda Nova pegou muita gente de surpresa. Usuários ficaram revoltados quando chegavam à estação e viam que não tinham como seguir viagem. Juliane Cristina, 20, moradora do bairro Mantiqueira, ficou sabendo da paralisação só quando ia passar a catraca do terminal. “Eu estava estudando e agora ia para o trabalho. Vou ligar para o meu pai para ver se ele pode me levar, mas de qualquer jeito vou chegar atrasada. Acho isso uma sacanagem.”
O ajudante de serviços gerais Wanderson Augusto da Cruz, 21, morador do bairro Santa Mônica, teve que voltar atrás quando ia pegar a linha 62, única opção dos usuários da região para ir para a região hospitalar e Savassi. “Agora vou ter que pegar dois ônibus e vai demorar mais. Não é justa essa paralisação”, reclamou. A manicure Alcilene Ramos da Silva, 24, ficou sem saber o que fazer para chegar ao serviço. “O problema é que não tem outra forma de ir para o trabalho, a não ser pegar o 62. Esta greve atrapalha muito”.

Greve aumenta procura de passageiros pelo metrô
Por causa da greve dos rodoviários, na segundafeira, o metrô da capital registrou um aumento de pelo menos 5.000 passageiros. De acordo com dados divulgados ontem pela assessoria de comunicação da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), ao todo, 149.460 pessoas foram transportadas pelo metrô durante os horários de pico na segunda-feira.
O coordenador de operação do Metrô-BH, Luis Prosdocimi, informou que o aumento expressivo de embarques foi registrado principalmente na estação Eldorado, em Contagem, que recebeu mais de 26 mil usuários anteontem: um acréscimo de 11,5%. “O aumento foi um reflexo da greve dos rodoviários, que impossibilitou o transporte de muitos passageiros pelo sistema de ônibus da capital durante toda a segunda- feira”, afirmou.
Até as 11 horas de ontem, o metrô já havia registrado um acréscimo de mais 6% em relação ao registrado no dia anterior, segundo dados do coordenador de operação. O valor é referente à comparação dos mais de 56 mil usuários transportados no pico da manhã de anteontem com os mais de 60 mil passageiros até as 11h de ontem.

Fonte: O Tempo

(Incluída em 27/02/2008 às 08:50)

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